sábado, 13 de abril de 2013

Autobiografia em versos



NASCIMENTO, MISÉRIAS E EPITÁFIO DO POETA MENOR


Eu tanto relutei em vir ao mundo
Que de mamãe fui extraído... a ferros!
Nasci roxo de raiva - furibundo!
Muito custando a desferir meus berros!

Com a intuição estranha dos poetas,
Briguei ao pôr a cara neste inferno:
Adivinhando as horas inquietas,
Queria a paz do útero materno!

Para soltar o choro revoltado
Que faz rir sempre a parentela aflita,
Apanhei tapas como um cão danado:
- “Agora, sim! O nenenzinho grita!...”

Feio como raríssimos pimpolhos
- Pés tortos, magricela, cabeçudo! -
Meus pais passaram por cem mil trambolhos:
Para eu ser gente, eles fizeram tudo!

Botas de ferro... Sebo de carneiro...
“Dom Amando”... “Colégio Nazaré”...
E ao doutorar-me no lugar primeiro,
Casei-me - ingratalhão! – e... dei no pé!

Hoje, aos quarenta e dois anos, pondero,
Olhando os rastros que deixei atrás,
Sobre o que fiz na vida - e sou sincero:
Esse balanço não me satisfaz!

Só realizo mínimas parcelas
Do Bem que tanto anseio praticar!
Desperdicei ocasiões tão belas
De mais um pouco me santificar!

Cônscio, porém, de tais limitações,
Prossigo a batalhar em campo aberto:
Um IDEAL motiva-me as ações
E me sustém nas trilhas do deserto:

Quando nasci, chorava eu, sozinho;
Todos sorriam, plenos de alegria.
Quero, meu Deus, que, ao termo do caminho,
Pranteiem todos e só eu sorria!

Desejo, então, como troféu final,
Merecer epitáfio como aquele:
- “Hoje no mundo existe menos mal
Porque Emir Bemerguy passou por ele!...”
 
Emir Bemerguy, 28/4/1975

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