quinta-feira, 28 de março de 2013

Histórias de Pescadores



HISTÓRIAS DE PESCADORES

Foi há uns dez anos. Entrei no escritório do empresário Hélcio Amaral e vi uma placa pendurada na parede. Li o texto e fiquei rindo, a louvar o espirituoso autor anônimo da pequena frase: “Aqui se reúnem caçadores, pescadores e outros mentirosos”. É apenas meia-verdade essa velha certeza de que sempre se deve duvidar das histórias narradas por quem caça ou pesca. Naturalmente, para vergonha nossa, não faltam os sujeitos exagerados, que costumam aumentar o peso e o tamanho de suas vítimas. A maioria, porém, conta corretamente o que aconteceu no rio, na selva, no lago, no mar. Só quem nunca se meteu nessas deliciosas aventuras, fica achando que tudo é invencionice. Vou repassar a você alguns casos absolutamente verídicos. Duvide, se quiser.
Hilário Coimbra procurava tucunarés, arrastando o seu corrico por essas beiradas. Conversava com o parceiro do bote, quando, de repente, viu a isca de metal erguer-se no ar. Foi subindo, subindo, até despencar novamente dentro d'água. O sem-vergonha de um gavião enganou-se e, pensando que era um peixinho vivo, tocou o bico no ferro! Por um triz não se fisgou no anzol!­
José Sarmento, meu robusto amigo contabilista, ia também corricando ali ao redor da Ilha dos Periquitos. Não pegava nada - como sempre - até que criou alma nova ao sentir o peso da linha. Pelo jeito, se não fosse um galho de pau, era um tremendo tucunaré. Foi recolhendo o fio e acabou tomando um baita susto: havia anzolado um... mergulhão! O arisco bicho nadava pelo fundo, sendo apanhado pela isca de ferro. São histórias de pescadores, mas acontecidas e testemunhadas.­
Alberto Dezincourt, o velho Marçal, é o pescador mais completo de Santarém. Conhece do espinhel à tarrafa, da pinauaca ao arpão, da malhadeira ao corrico. Ele conta que um amigo seu era tripulante de um grande navio. O barco estava fundeado, chegou a­ hora de sair e o comandante mandou levantar ferros. Estranhamente, a máquina puxadora trabalhava e nada acontecia. Tiveram que convocar mergulhadores para saber que mistério ocorria lá embaixo. Descobriram que uma colossal jamanta - a arraia do mar - dormia sobre as âncoras... Diz Marçal, repetindo a narrativa do amigo, que foi difícil acordar a distinta e fazê-la andar para que o navio se libertasse. Por esse “causo” não meto a mão no fogo. Parece história de pescador criativo.­­
Alfredo Oliveira é o mais antigo pescador de mergulho que temos em Santarém. Já estraçalhou milhares de enormes tucunarés, pirapitingas, surubins e o que aparecer. Ainda está em plena forma e sabe milhões de gostosas histórias, algumas arrepiantes. Viu Mapinguari, Curupira, Matinta-pereira, ouviu guariba falar com caçador. Conta que ali no Cais do Porto pegou carreira de uma arraia para ninguém pôr defeito: a bichona tinha um metro de distância entre um olho e outro! Se o sujeito não boiasse logo, o monstro o esmagaria, jogando-se várias vezes em cima dele. Quando eu fui apresentado a essa arraia do Alfredo, lembrei-me da jamanta do Marçal...­
Por último, uma historinha de confiabilidade total. Arnaldo Lisboa, eu e o Guiri puxávamos enormes sardinhas, à noite, lá de cima do Cais do Porto. Usávamos pedacinhos de camarão quando, em dado momento, vimos o impossível: Guiri fisgou algo estranho, que se debatia muito. Jogada a vítima sobre o chão, foi uma gargalhada só, pois um vasto morcego estava devidamente anzolado! Ao comer a isca, o rato que resolveu ser aviador ficou preso e deu trabalho para sair da linha. Arnaldo e eu advertimos o infeliz Guiri: “Quem pega morcego, nunca mais há de pescar nada que preste”. Desfaz-se a reunião de caçadores, pescadores e outros cidadãos confiáveis.­­
(Emir Bemerguy – Santarenices)

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