sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A saboneteira e a rosa


Durante toda sua vida, uma das formas mais comuns de meu pai expressar seu amor por minha mãe foi lhe dando rosas. Ela as encontrava nos mais diversos lugares: debaixo de sua xícara de café, nas gavetas, em cima da penteadeira, etc, quase sempre acompanhadas de versos. Mas eu nunca imaginei a função desta saboneteira, que encontramos em cima de um dos armários de papai. Mamãe foi que nos contou: ele andava com ela no bolso, com uma tesourinha dentro, e quando ia à igreja, o que fazia quase todos os dias, “roubava” uma rosa do jardim ali existente, usando a tesourinha para cortar o talo e a saboneteira para guardá-la com cuidado, até chegar em casa e entregar a flor para minha mãe. Ela protestava (sem muita convicção): “Meu bem, o padre quando descobrir vai ralhar com você!...” Ele dava um sorriso e não respondia, pois no coração dos poetas, roubar rosas para entregar à sua amada nunca foi crime. Dentro da saboneteira ainda estão restos de pétalas da última rosa que ele ofertou à minha mãe. 

Meu primo Paulo Bemerguy escreveu o seguinte quando soube desta história:

“O que tem a ver uma saboneteira com uma rosa?
Uma saboneteira tem tudo a ver com uma rosa quando ambas caem nas mãos de um poeta.
Emir Bemerguy se foi.
Ficaram 20 livros prontinhos para serem publicados.
Ficou uma saboneteira com uma tesourinha dentro.
Ficou a lembrança de muitas rosas - dezenas, centenas - que ele usou para externar seu amor.
Ficou a lembrança de que as coisas simples da vida é que, verdadeiramente, têm beleza e odor.
Têm olor e sabor.
Encanto e ternura.
Tudo em sintonia.
Tudo em harmonia.
Como uma saboneteira que guarda uma rosa.”

Um comentário:

  1. Caro amigo Emir,

    Parabéns pelo blog.

    O grande e saudoso Emir Bemerguy, seu pai, era parceiro musical de três gerações da família Fonseca: José Agostinho da Fonseca (1886-1945), meu avô; Wilson Fonseca (1912-2002), meu pai; e Vicente Fonseca (1948-).

    O belo poema "Saudade Perfumada" foi por mim musicado.

    Veja as minhas parcerias musicais com Emir Bemerguy:

    OBRA MUSICAL DE VICENTE JOSÉ MALHEIROS DA FONSECA
    (Ordem Cronológica)

    Parcerias com Emir Bemerguy

    1."Queixumes do Fim" (samba lento)
    2."Missa Popular" (7 partes)
    3."Hino do Coral de Santarém" (música: Vicente Fonseca e Wilson Fonseca)
    4."Praça da Matriz" (marcha-rancho)
    5."Jóia de Deus" (samba lento)
    6."Lenda da Vitória-Régia" (canção – samba)
    7.“Hino das Olimpíadas do Colégio ‘Dom Amando’”
    8."Lenda da Mãe D'Água" (toada moderna – samba lento)
    9."Eliane (II)" (valsa)
    10."Tempos de Criança" (samba-enredo)
    11."Hino ao Centenário do Theatro da Paz"
    12.“Saudade Perfumada” (Elegia para Telminha) – canção
    13.“Quinze Anos” (valsa)
    14.“Hino da Academia de Letras e Artes de Santarém” (letra: Vicente Fonseca e Emir Bemerguy. Música: Vicente Fonseca)
    15.“Cidadela de Bravos” (hino-marcha)

    Abraços,

    Vicente Malheiros da Fonseca
    http://www.trt8.jus.br/index.php?option=com_juizes&task=judge&tipo=1&id=364&Itemid=202
    http://www.wilsonfonseca.com.br/blog/

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